quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Ilhas poéticas e loucuras


Como Paulinha explicou no post anterior, estamos agora num momento do processo em que cada ator tem uma rodada de condução. Isto é, cada ator tem três dias para conduzir os ensaios como quiser, com suas visões e desejos para a encenação.
Tendo muito apreciado as Ilhas introduzidas por Paulinha, quis continuar trabalhando com elas. Mas sentia que improvisávamos sempre muitas ações e imagens, enquanto os poemas parcamente eram trazidos à tona. Por isso (e por ter uma relação especial com as palavras, uma vez que sempre gostei muito de ler e escrever), escolhi trabalhar não mais com Ilhas de ações manoelescas, mas com Ilhas Poéticas. Cada ilha era um poema, e necessitava de ser habitada por um corpo.
Assim, os primeiros dois dias de trabalho consistiram em encontrar maneiras de habitar essas ilhas e dar voz a elas. Começávamos sempre com um aquecimento com View Points, que permitia aos corpos dos atores explorarem o espaço e descobrirem as ilhas, lê-las, respirá-las. Os desobjetos que temos usado, por sua vez, ficavam empilhados numa grande ilha central, esperando. Então os atores podiam transmutar-se em corpos-coisa (isto é, vestir, transformar, subverter e ressignificar os desobjetos) e habitar as ilhas com esses corpos-coisa.
Os atores eram estimulados a darem voz a esses corpos, voz esta que não precisava necessariamente ser entendível, mas que precisava sair, ganhar espaço, atuar no tempo, ressoar no espectador. O resultado foi uma loucura sonora e visual. Uma loucura incrível!
No terceiro dia, elegi imagens e ações e coisas que os atores tinham feito durante as improvisações e que pessoalmente me interessaram (eu as tinha anotado febrilmente no meu caderno) e brinquei de encenadora - juntando imagens, criando cenas, propondo relações. Pra mim, que estava de fora, foi maravilhoso – um vislumbre das possibilidades de como essas criaturas-corpos-coisas que estamos criando podem ir para a cena.
A loucura maior é que tudo pode ir para cena! Sujeitos esmolambados, borboletas que apanham pra voar, germinações de inércia, aprendizes de abelhas mais que aeroplanos, simpatizantes de Fellini, des-heróis de Callais, cantadores de borboletas, casulos dançantes... tudo! 






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