Como Paulinha
explicou no post anterior, estamos agora num momento do processo em que cada
ator tem uma rodada de condução. Isto é, cada ator tem três dias para conduzir
os ensaios como quiser, com suas visões e desejos para a encenação.
Tendo muito
apreciado as Ilhas introduzidas por Paulinha, quis continuar trabalhando com
elas. Mas sentia que improvisávamos sempre muitas ações e imagens, enquanto os
poemas parcamente eram trazidos à tona. Por isso (e por ter uma relação
especial com as palavras, uma vez que sempre gostei muito de ler e escrever),
escolhi trabalhar não mais com Ilhas de ações manoelescas, mas com Ilhas
Poéticas. Cada ilha era um poema, e necessitava de ser habitada por um corpo.
Assim, os
primeiros dois dias de trabalho consistiram em encontrar maneiras de habitar
essas ilhas e dar voz a elas. Começávamos sempre com um aquecimento com View
Points, que permitia aos corpos dos atores explorarem o espaço e descobrirem as
ilhas, lê-las, respirá-las. Os desobjetos que temos usado, por sua vez, ficavam
empilhados numa grande ilha central, esperando. Então os atores podiam transmutar-se
em corpos-coisa (isto é, vestir, transformar, subverter e ressignificar os desobjetos) e habitar as ilhas com
esses corpos-coisa.
Os atores eram
estimulados a darem voz a esses corpos, voz esta que não precisava necessariamente
ser entendível, mas que precisava sair, ganhar espaço, atuar no tempo, ressoar
no espectador. O resultado foi uma loucura sonora e visual. Uma loucura
incrível!
No terceiro
dia, elegi imagens e ações e coisas que os atores tinham feito durante as
improvisações e que pessoalmente me interessaram (eu as tinha anotado
febrilmente no meu caderno) e brinquei de encenadora - juntando imagens,
criando cenas, propondo relações. Pra mim, que estava de fora, foi maravilhoso –
um vislumbre das possibilidades de como essas criaturas-corpos-coisas que
estamos criando podem ir para a cena.
A loucura
maior é que tudo pode ir para cena! Sujeitos esmolambados, borboletas que
apanham pra voar, germinações de inércia, aprendizes de abelhas mais que
aeroplanos, simpatizantes de Fellini, des-heróis de Callais, cantadores de
borboletas, casulos dançantes... tudo!
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