Demorou, mas chegou: aqui vem o segundo post
do Retrato do Processo, que a partir de agora andará mais movimentado! Já temos
muita coisa acontecendo, mas aqui começaremos pelo começo, para que quem tenha
interesse em compartilhar conosco o processo se sinta incluído e entendido nos
assuntos.
Como já dito no post carinhosamente intitulado
“Desvirginação”, temos como marco oficial do início do processo a vinda do Odilon
Esteves, do Luna Lunera, que está nos dirigindo. Claro que o projeto já vinha
sendo gerado, mas após a vinda do Odilon tudo se intensificou.
Da
boca do Odilon saíam pérolas a todo instante. Paulinha conta: “Tentei coletar a maioria para guardar
comigo. Dentre elas, ficou muito forte: estamos nos ‘alfabetizando’ em Manoel
de Barros e em seu idioleto. É fantástico! Tão bonito... foi exatamente o que
aconteceu.”
Foi
tempo pouco para encontros muitos, para esse tudo que aconteceu tão lindamente.
Segundo ainda as palavras da atriz Paulinha Medeiros “Foi um encontro lindo,
dos mais lindos que já vivi. Voltamos à peraltagem, às feridas, às glórias e
nos conectamos com criaturas e energias que vivem em um universo diferente...
um universo simbólico, precioso, mítico, poético, poderoso, singular. Acho que
eu nunca me senti tão tocada por um processo e, confesso, fico com um pouco de
medo. Mas não é um medo ruim, é um medo assim... muito particular. É que tudo
está acontecendo de um jeito tão lindo e intenso que eu me pergunto se é
possível trabalhar sentindo tanta delícia. (...) Uma escolha muito abençoada
essa nossa de ir ao encontro do outro. E a palavra é essa mesmo: encontro,encontro, encontro, encontro..."
Tenho certeza que essa fala de Paulinha é uma
fala de todos do Bololô! E olha que é difícil ter certezas nessa vida. Para
contar um pouco mais da maravilha que foi o encontro com Odilon, para caminhar
um pouco sobre Ilha Desconhecida que ele era, segue o texto abaixo, escrito por
Alex Cordeiro, nosso assistente de direção.
“A
ilha Desconhecida, ou, Odilon.
Em estado de silêncio, talvez tenha sido essa
a sensação exata que tomou parte do meu ser, durante a primeira semana de
trabalho do Retrato. Odilon cativou a todos com seu jeito manso de falar, e
afetuoso de agir. Mesmo estando eu, antes de sua chegada, um pouco ansioso com
o desconhecido que ele representava, tinha a intuição de que iria encontrar um
indivíduo, que a partir de suas ações, iria expor a riqueza e a diversidade do
fazer teatral produzido nas salas de ensaios dos grupos de teatro do Brasil, e
nesse caso, do próprio Luna Lunera.
No primeiro dia de encontro eis que fui
apresentado ao modo Odilon de conduzir um processo. Tudo começou em uma roda,
formada por todos da equipe, com o objetivo puro e simples de conversar.
Gastamos seis horas trabalhando um dos princípios básicos do teatro de nosso
tempo: a comunicação pura e simples através da palavra, do diálogo. Isso mesmo,
conversamos incansavelmente sobre o universo de Manoel de Barros, da Bololô, do
Luna... Sobre cada um de nós. Sendo que uma de suas impressões sobre a obra do
Manoel de Barros chamou a minha atenção. Disse ele “A obra do Manoel de Barros
nos aproxima das coisas abandonadas e nosso desafio é fazer o público perceber
essa aproximação”.
Como assistente de direção, fiquei
encasquetado com essa provocação. A poesia do Manoel me faz perceber beleza nos
objetos desprezíveis... Mas as palavras do Odilon potencializaram meu olhar
como encenador. Este trabalho parte de um livro que apesar de se constituir
totalmente de palavras, tem nos espaços em branco, um forte poder imagético. E
é nesse lugar branco que se esconde as possíveis cenas do nosso espetáculo. (...)
E na minha função, Odilon contribuiu dizendo: meninos, a sensação para quem
está observando tudo de fora é de empréstimo! Empreste seu olhar a todos, aos
atores, ao iluminador, ao público!
O meu primeiro encontro com o Odilon, deixou
um aprendizado para a minha jovem carreira de encenador: é importante escutar o
outro, a sua equipe, pois esta constrói ao longo de sua trajetória artística,
um leque de impressões. Odilon tinha curiosidade em saber quais espetáculos
haviam nos deixado com sensação de proximidade, que cenas, que cores, que
palavras ditas no teatro nos deixavam calados, emocionados, acreditando que
este seria um caminho possível para a nossa própria criação. Ele tinha curiosidade em saber quem éramos
nós, não para imprimir um discurso autoritário de trabalho, mas para fazer com
que nós encontrássemos as rotas possíveis para a jornada que se iniciara.
O mais curioso desse meu encontro com ele, foi
perceber que o desconhecido que ele representava no início, caiu por terra,
pois sete dias de trabalho depois “Odilonzim”, como carinhosamente o
chamávamos, revelou-se um jovem ávido por novas experiências, assim como os
jovens atores da Bololô, assim como eu sou.
Como diria o Saramago: “quero encontrar a ilha
desconhecida, quero saber quem sou eu, quando nela estiver” e agora que estou
na ilha do Odilon, que também pode se chamar Luna Lunera, e sabendo que os
princípios que a regem (comprometimento com a pesquisa, valorização do diálogo,
criação compartilhada e afeto na diferença) também estão presentes na Ilha que
eu habito: a ilha Bololô.”
Que bom estar aqui...
ResponderExcluirQue bom ter essa moça com voz de sereia por perto. :)
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